Por Roger Mattos
A chegada de Constantino à igreja mudou profundamente a história desta. Munido de autoridade, o imperador modificou toda a engenharia eclesial. Dentre elas, destaca-se a aliança do Estado e a Igreja.
Como consequência desse evento, findou-se a perseguição que outrora importunava a noiva de Cristo. Outro fator importante de salientar é que o imperador promoveu a construção de templos, onde houve uma alteração na forma de culto.
Dessa forma, houve também modificação na liturgia, dando ênfase ao sacramentalismo em detrimento dos dons espirituais. Por conseguinte, o impacto das mudanças fora tão significativo que emergiu um movimento de resistência: o monasticismo. Este dava forte ênfase à espiritualidade ascética e à experiência com Deus.
Constantino se converteu à fé cristã no ano de 312 d.C. Houve muitas indagações a respeito desse episódio. Teria sido sua conversão uma experiência genuína de fé? Ou, ao contrário, um ato movido por interesses políticos e estratégicos? De todo modo, esse acontecimento exerceu uma forte influência no que tange às questões eclesiológicas e aos processos institucionais do movimento cristão.
O fim da perseguição aos cristãos foi, indubitavelmente, um acontecimento crucial resultante da influência do imperador. Sabe-se que ele foi o responsável por unir o Estado e a Igreja. Destarte, isso se torna ainda mais evidente com a realização do Concílio de Niceia. Nesse importante concílio, o imperador conduziu assuntos de ordem teológica, tais como a Trindade — um marco inédito até então.
O imperador também realizou diversas obras no tocante à construção de estruturas eclesiais. O culto, que antes era realizado em casas, doravante era celebrado em templos. Por isso, houve a necessidade de atualizar o regimento interno eclesiástico. A partir de então, o batismo e a santa ceia foram interpretados como meios de se obter a salvação. Estes só poderiam ser realizados pelo bispo ou por seus encarregados, monopolizando, assim, a autoridade do clero (REFIDIM, 2019).
Toda essa revolução, no entanto, não agradou a todos. Tendo em vista que somente a elite da Igreja era considerada portadora de graça e dos dons espirituais, houve uma reação contrária às novas mudanças. Se antes, por exemplo, o agir do Espírito de Deus era livre na comunidade de fé, agora vivia-se um engessamento do mesmo. Assim, surgiu um grupo que aderiu a uma espiritualidade à parte de toda essa inovação: os monges. O movimento monástico aderia a um estilo de vida ascético e de profunda experiência espiritual.
Em linhas gerais, é nítido que a adesão do imperador Constantino ao cristianismo não foi vista com bons olhos por todos. O advento do monasticismo é uma prova factual desse evento, um grande marco na história da Igreja e do mundo. Embora a influência do imperador tenha concedido privilégios à Igreja diante do Estado, esse mesmo fator contribuiu para o arrefecimento da fé de muitos e até mesmo para um número significativo de apostasias.
REFIDIM Faculdade. Pentecostalismos e Assembleianismos: História e Teologia. 2. ed. Joinville: Faculdade Refidim, 2019.